Vila do Oeste, Cabo da Roca demarca logo a importância da localização neste projecto. “Onde a terra se acaba e o mar começa”, é um símbolo de uma ideia de comunidade que, privilegiando a exposição solar, associando à luz e pressagiando os dias solarengos, será tão próxima da natureza quanto possível.
Propomos um compromisso entre o sítio e a construção de uma identidade. Para tal demolimos os edifícios existentes, uns por terem uma linguagem dissonante com o sítio onde estão implantadas, outras por já estarem degradadas. Aquando da visita não sentimos que a construção actual resultasse num contributo para este território tão importante, tão marcado, tão expressivo e imerso em histórias que o elevam a um estatuto cultural. A nossa proposta quer ser uma nova circunstância neste sítio e anunciar uma nova linguagem.
Os limites do lote, apesar de desenhados, ultrapassam qualquer linha ou muro: temos a Oeste o Oceano Atlântico e estamos rodeados por espaços naturais do Parque Natural Sintra-Cascais. A localização e altitude do sítio ditam a importância de conhecermos o terreno, pois apesar de local e pequeno, tem abertura para o longínquo e infinito. Esta dicotomia de escalas e de ambientes que este local desenha já nos permite pensar num trabalho de valorização pela diferenciação de experiências que aqui conseguimos criar.
Na nossa proposta queremos regularizar e revitalizar o tecido urbano, o que nos fez procurar uma malha dentro daquela zona. Porém, a morfologia do terreno é muito óbvia: existe uma plataforma mais alta na entrada a Este que vai descendo paulatinamente até ao limite Oeste. Entre as duas malhas, entendemos que a do terreno e as linhas orientadores que este sugeria eram mais fortes. Ter o terreno como marco é uma premissa de identidade do projecto.
Contando com esta malha, temos algumas questões a resolver:
• Como colocar 2100m2 de construção neste lote sem desvirtuar a envolvente, sem o tornar árido e “demasiado construído”, e manter a imagem bucólica e calma que tem actualmente?
• Garantir afastamentos mínimos legais consoante a altura das fachadas;
• Como garantir que estas casas não apanham ventos fortes? Que se tornam abrigadas?
Não pensámos nestas casas como apenas quatro paredes onde se passa o dia. Há vontade de aqui viver, mas também vontade para sair e usufruir dos espaços exteriores privados e comuns.
Desta forma, o conceito da casa constrói-se à volta da ideia de um pátio. A expressão “à volta da ideia” é colocada aqui da mesma forma que organizamos a casa, com os seus espaços à volta do pátio. Esta é a nossa ideia síntese, em que o todo reforça as partes: temos casas com implantações diferentes, mas todas têm o mesmo jogo base, as mesmas peças. O jogo entre as peças e a distância que elas criam entre si são os espaços intersticiais, que desenham uma imagem bucólica, pouco urbanizada. Este jogo, em planta, repete-se em altura pois a cozinha, os quartos, a sala e o pátio tem todos alturas diferentes entre si. Estas regras permitem criar uma identidade em que se ilude a escala da construção, pois resulta numa implantação dispersa. Esta ideia não passa de uma ilusão, pois a regra está lá, e foi sabiamente aplicada para descaracterizar qualquer sensação de “prédio”, “urbano” ou “desproporcional”.
A implantação de cada casa respeita a cota do terreno, pelo que há casas nas cotas 242.5, como na 241.5, na 240, na 238.5, entre outras.
A nossa proposta defende que a sustentabilidade passa por um conjunto de princípios que irão mapear a solução final: a avaliação cuidada do lugar, do terreno e da sua morfologia, a consideração da exposição solar, da implantação do edificado, do programa pretendido e da materialidade, entre outros.
Isto leva-nos a ter como tema importante a duração de um edifício e o seu correspondente ciclo de vida, cuja preocupação nos leva aos materiais a utilizar em construção. A nossa aposta é, sempre que possível, privilegiar os materiais autóctones, os materiais cuja recolha e transporte minimizem os custos ambientais, os materiais tradicionalmente portugueses, sejam os de uso intemporal como os que a tecnologia actual suporta. Propomos como solução a construção em madeira sólida “CLT”. Esta, comparando com sistemas baseados em betão, reduz as emissões globais de carbono, como também é um sistema inovador com o qual já temos experiência de trabalho. É um sistema auto- portante, e pela sua facilidade de fabrico e agilidade de montagem tira meses ao tempo global de construção. Também oferece soluções de custo competitivo face a sistemas de construção tradicionais, sendo ainda três a quatro vezes mais rápido. Além disso, apresentam uma melhor resistência ao fogo e à acção sísmica, e melhores propriedades de isolamento acústico e térmico. Esta solução aliada ao nosso jogo modular e racional parece-nos uma resposta eficaz.
Acreditamos que a proposta engloba forma, conteúdo, identidade. Resolve o tema programático e a operação urbanística para não elencar custos adicionais ao promotor, como também cria um diálogo com o local, transformando a herança do lugar, do existente, com alusão ao futuro. É uma proposta assente na relação privilegiada entre comunidade e natureza.